quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Juntando os restos. Ou melhor, tentando..


Não nasci lagartixa, pronta pra me refazer depois de alguma amputação. Não nasci pronta pra me regenerar porque não nasci preparada para cortes tão fundos. Afia a lança, arremessa e acerta bem em cheio no meu coração. Vem aqui dentro, lixa os cantos, corta um pedaço, escreve fundo do outro lado e faz o sangue escorrer. Eu não sei ser remédio pra curar nada, e o mertiolate da infância já não faz efeito. Vem e troca o coração de lugar, desativa o cérebro, manda a razão ir pastar, depois sai deixando a porta aberta e a ferida exposta. Deixa o vento gelado entrar, congelar, deixar doer e latejar. Você foi furacão, tsunami, terremoto, foi fenômeno da natureza e agora tenta não ser nada, quer me fazer esquecer. Você foi bom e agora é mal. Foi melodia e agora soa como microfonia nos ouvidos. Se encontra perto e me afasta quilômetros cada vez que finge que não vivemos nada. O meu anjo protetor se transformou no homem alto de capuz preto que me leva pra forca. Ei! Eu não nasci lagartixa, e também não nasci fênix pra renascer das minhas próprias cinzas. Não sei reconstruir o que foi destruído. E deixa eu dizer, todas as minhas certezas foram destruídas, e eu não consegui reconstruir nada. Agora eu sou o que sobrou. Sou contradição, sou passageira, sou o escuro, sou toda de incertezas, buracos, sou a falta que ninguém sente e o sentido que ninguém vê. Escrevo tentando ser profunda e no final vejo que sou o razo da água clara do rio. Não quero mais ser raza, ser sobra, ser nada, ser a sujeira que ficou depois que você passou. Quero ser inteira, ser a mesma longe de você, quero voltar a ter paz, quero ter amor sozinha, quero ser feliz. Quero me refazer, me reconstruir. Quero ser lagartixa. Quero ser fênix. Quero, e no entanto ainda nem sei como fazer pra levantar da cadeira e correr pra abrir a porta e deixar o sol entrar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário